sábado, 30 de outubro de 2010

Eu, pronome


Sinto-me mesóclise presa ao futuro.
Pois me é abstrato e seduz-me com
incertezas,
Pois me é conhecido, de sonhos que
outrora sonhei.
Um presente do passado:
Lambe o dedo, vira a página
Bebe um gole das tuas palavras num canto em branco.
Conhece-te.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Por Pouco.

Um instante e a gravidade
não deixaria que a lágrima escapasse.
Um instate apenas, e Julieta
não clamaria uma gota de veneno.

A mínima angulação no relógio,
um acúleo vira espinho,
um nó prende-me a garganta
o peixe salta do aquário

Escolho as linhas tênues porque
são quem me surpreende.
Apesar de serem linhas tênues
as que me pregam peças de destino.

domingo, 17 de outubro de 2010

Perfume


Dedos do vento abrem
caminhos no meio dos cachos
para espalhar aos seus quatro braços
o segredo do fascínio.
Deitam-se as pálpebras,
Um dejavù denuncia o calafrio familiar
Sonho invertido, sensação de frio
Lembrança hostil e palpitação de desejo.
Porque o mistério desse cheiro
faz as minhas sinapses mais lentas,
O som mais baixo, os meus pés no céu
Até descobrir que estou sem asas.
Então há a prisão num frasco,
das suas flores e dos seus mares
para que vertidos em água,sintam-se lágrimas
e espalhem-se no ar do meu mundo.

É o mais sedutor frasco
na minha prateleira de venenos.

sábado, 16 de outubro de 2010

Vela


Castigo e Calor,
contra a sua vontade
as ondas caem na vertical
A gravidade machuca.

O choro queima as bochechas:
parafina quente.
Um suspiro na direção
da chama e enfim, liberdade.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Inspira Ação

Subitamente
Súbito à mente
As palavras correm
O rio esvazia-se.
A língua trava
A Língua cala.
É, acho que hoje não tem poesia.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Perdedora de Estrelas.


Escolheu navegar no mar escuro,
pontilhado de vaga-lumes fixos.
Dominou um Pégaso pra que pudesse alcançá-las
porque tinha o céu
como um espelho dos seus olhos.
(Infantil, dominador, escuro e brilhante.)

Queria que uma estrela tivesse o seu nome
E preparava armadilhas hostis para conseguir
seu feito.
Mas as estrelas eram suas filhas e fugiam
por entre os seus dedos.
Sentou-se na areia enfurecida e chorosa, e adormeceu.

Apenas quando cresceu,
um beijo veio lhe acordar.
Era uma onda de nostalgia que a fez despertar.
Era o capitão de um navio disposto a descobrir
uma estrela teimosa que a fizesse sorrir.
Mas o nome dela as estrelas não aceitavam ter
E o Navegante decidiu que não a veria mais reclamar

Distraiu os olhos da criança
com um novo desafio então :
agora ela teria que usar o seu Pégaso
pra gravar o próprio nome no coração
de quem já era o Seu Navegante.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Diário antigo


"Entre, linhas tênues."
Avisou-me a capa de um relicário
que continha as mais expressivas
palavras que outrora guardei.

Entre linhas tênues, caminhei.
Lembrei-me do que me provocava risos
e de quantas vezes já me assustei.
As superfícies agora se destacam,
inevitavelmente notei.

Entrelinhas tênues quebraram minhas máscaras,
converteram o meu rosto num paradoxo informal:
Lágrimas nos olhos e sorriso colorido
por ter agora descoberto que o som das palavras
acordara uma criança que há muito, havia adormecido.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vertigem


A minha realidade
esvai-se sem me questionar
E ouço o silêncio que grita
Que sou quem não pode evitar.

Quisera poder segurar
resistir a um beijo do mar
mas aceito e pago o preço
do abstrato que sonho em tocar.

Perseguindo um coelho que seja,
gritando para que ele me veja
O destino vem me avisar
que sou quem não pode evitar.

A porta é menor que meu ego
Vermelho vem me desagradar
Chapéus me convidam pro chá
De uma luta que me obrigo a ganhar.

A hora me maltrata,
Preciso voltar.
Aceito a realidade de quem sonha,
sendo sempre quem não pode evitar.