domingo, 28 de novembro de 2010

Artista

O vento que move meu barco quando sopra a minha vela
sou eu quem pinta na tela.
O vento que dorme num sopro e apaga minha vela,
Dança no meu papel sem dar-me uma trela.

As notas de muitas canções são misturadas
na minha paleta.
A ressaca dos mares me alegra, me faz sentinela
e salta para fora da minha cartola.

Não temo minhas mágicas, mesmo que exponham-me as entranhas.
Não param os meus poemas de saltar do peito à frequência
do meu coração.
Pois eis que com o sopro divino,
conheci a vida que existe nos detalhes
e amante sou da arte
como o orvalho é de uma flor.

sábado, 13 de novembro de 2010

Vontade

Hoje eu acordei irritada. Dei um dia livre pros versos e decidi escrever em prosa. Me vi num espelho que me chamou de adolescente mimada, me mostrou uma criança birrenta e me fez querer ser uma adulta séria. Mas meu espelho brigou com minha consciência e escolhi ficar do lado dela.
Dessa que prefere overdoses de risadas que me dá um barco ou duas asas se eu quiser andar. Uma consciência estúpida, racional e chorona. Que não precisa entender como características tão paradoxais são vizinhas num coração como o meu, porque já entende que um coração como o meu não está interessado em entender, ele quer sentir, apesar de tudo.

Li um texto de Lispector, quis correr e abraçar a liberdade, quis fazer o que me desse na telha. Tropecei. Isso é o que adolescentes normais e mimadas fazem. Minha consciência me sentou num canto e molhou-me as bochechas com duas lágrimas.

Quis bater o pé no chão, reclamar de tudo e fazer as coisas do meu jeito mesmo sabendo que no fim minhas bonecas acabariam despenteadas e com os vestidos desajeitados. Não consegui. Isso é o que crianças birrentas fazem. Minha consciência encheu meus pulmões de ar e me fez beber um gole de razão.

Desejei por fim crescer, ficar séria e me importar com dinheiro e com o futuro. Inútil, me peguei numa lembrança de algo não vivido que a minha consciência me mostrava num flash: não seria eu quem estaria vivendo, e sim um fantoche movido pelo que os outros esperam que eu seja.

Levantei do chão, enxuguei as bochechas e mesmo com o corpo tentando correr, chorar e mudar movido por umas saudades enormes... a minha consciência me parou.Sorriu e falou-me que "as minhas mãos não poderiam fazer mais nada". E apesar de não me aguentar de ansiedade e teimosia ocupei-me em ouvir a frase que me dizia logo após : "quando o amor chegar o tempo vai ter que se prostrar diante dele e sua única preocupação será sorrir. Espere pelo amor, ele fará suas vontades esvaziarem-se de egoísmo e trará um sorriso de paz e esperança, porque a vida, quando se ama, cresce sem que perceba, acha seus conflitos os mais lindos cantos entoados por anjos e seduz-se com sua pureza infantil."

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Espontaneidade

Saia do castelo de areia.
(Ao mínimo sopro do vento ele virá abaixo)
Corra pra perto do mar,
desafie-o mesmo que ele
insista em apagar as suas pegadas.
E sorria.

Sorria das impossibilidades, tenha fé.
Sorria das ondas que precisam machucar as
pedras para seguir seu caminho,
enquanto você sobe nessas mesmas pedras
pra ver um pôr-do-sol mais bonito.
Sorria sem se importar com hipóteses
de post mortem, faça dos seus instantes
o prêmio pela sua vida.

Não hesite em chorar, se isso valer a pena.
Não se prive de tomar um gole de sentimentos
irresistíveis.
Não resista à vida.
Trata-se de uma tela ansiosa pra ganhar cores,
Assuma-se um artista.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Velocino de ouro



A voz de Nefele ecoa nas nuvens
dizendo ao Carneiro alado
que salve as crianças daqueles ciúmes.

Castiga pois o rio que abraça a menina
pondo seu nome para que
nunca esqueça que suas águas
calaram-lhe a voz.

Testemunha logo após
o sacrifício do animal
e a lã a ser erguida
num carvalho.

Senta-se agora sobre as nuvens
e assiste à busca ofegante
daquele que deseja o trono e
traz a Morte como amante.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Anjo

"Acredita em anjo?"


O som de uma harpa acorda-me para alertar
que é preciso trazer à memória, a infância.
Pois um coração não pode ter medo,
nem esconder um segredo,
tem que ser tal qual o de uma criança
caso queira cuidar de algo valioso.

Pois acabaram-se os ciúmes das borboletas
quando descobri que tinha suas asas.
Findaram-se a inveja dos pássaros
quando a sua voz soou como uma canção aos meus ouvidos.
E as estrelas ficaram mais próximas
quando congelou um instante para escutar um desejo.

Bastaram poucas palavras para transpor meus limites
até o "para sempre" dos meus livros escritos por fadas,
e para cantar novamente canções de ninar esquecidas.
Algumas palavras apenas, escritas à pena,
e fiz com que pertencesse a você a responsabilidade
de me fazer voar,
Quer fosse num sonho
Quer fosse até alcançar minhas estrelas.


A quem me faz acreditar em anjos.