quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Carta a Vinícius de Moraes


Querido Poetinha,
Digo-vos que sou Uma Menina com Uma Flor,
caso queiras,
e posso também ser Chama, portanto
não podendo ser Imortal.
Mas prometo ser infinita enquanto dure.
A luz dos olhos olhos teus
faz com que eu deseje de tudo a ti ser
atenta
, meu amor.
Porque em meus gestos, existem os teus gestos
e em minha voz, a tua voz.

Posto que teus poemas
movem meu coração e concedem-me este ar.
Ar pois que te faltou na angústia de quem vive,
e que deixa-me a esperar-te na solidão de quem ama.
Estou agora a reclamar-te promessa mal cumprida.
Não te lembras que uma nuvem só acontece se chover?
Poderei eu, sozinha, fazer uma nuvem acontecer, Meu Poetinha?
Pois acontece que por ti, meus olhos já começaram a chover.
E sozinhos.
Mas eu sei que vou te amar, por toda a minha vida.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quero


Cortarei pois estes trilhos
tal qual um cateto:
num pleonasmo proposital de perpendicularidade reta,
sem hesitações.

Quero ter um dejavù porque
outrora sonhei exatamente como seria o meu caminho,
e não porque sei que serão
apenas traços paralelos
até a minha estação final.

Quero bater as minhas asas freneticamente
sem sair do lugar,
quero ser beija-flor
E quando decidir voar para alguma direção,
o farei sem pisar nos retângulos frios de aço,
que repousam sobre as pedras
por mim vistas do alto.

Olhos enfadados num banco de estação
não verão minha vida passar por entre poucos vagões.
Tenho asas. Se quiserem, espectadores,
expectem para a minha vida nuvens e estrelas
porque, diante de tudo que quero,
quero mais ainda ser um motivo
pelo qual as pessoas olhem o céu.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Metamorfoses

Pessoas mudas numa dança.
Um,dois, passos para lá.
Um dos passos para cá.
Então já não te lembras
dos sorrisos da infância,
e então te embriagas num ritmo
surdo de mudança.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nostalgia


Escolho abrir um livro de contos
ganhar um vestido de uma fada
e andar numa carruagem de abóbora.

Prefiro não crescer nunca,
embrenhar-me na floresta,
sentir o sabor
de uma casa de doces.

Quiçá não precise fechar os olhos para sonhar.
No entanto o meu verso anda perdido, caminha sem tino
numa rua onde o asfalto
rouba a casa de uma flor.